
Inaugurada em 30 de novembro de 1873 e repaginada pela última vez em 1941, a Estação Ferroviária da Parangaba é, junto com a Igreja Matriz, um dos prédios mais antigos da região. Ameaçada pela modernidade do futuro metrô, ela ainda é alvo de polêmica
11/04/2007 02:20
UM CANTEIRO de obras já foi montado no entorno da Estação da Parangaba. No local, será construído pelo Metrofor um memorial(Foto: ALCIDES FREIRE)
UM CANTEIRO de obras já foi montado no entorno da Estação da Parangaba. No local, será construído pelo Metrofor um memorial(Foto: ALCIDES FREIRE)
Ele começou a fazer barulho desde junho do ano passado. Dois meses depois, conseguiu iniciar um processo de tombamento para não deixar morrer um pedacinho de Fortaleza que guarda mais de 130 anos de história: a Estação Ferroviária da Parangaba. Com uma forcinha aqui, outra acolá, o Comitê Pró-Tombamento da Estação da Parangaba (CPTEP) grita para tentar barrar o que está por vir: a demolição do prédio que data de 1873 e que passou por intervenções e reformas até ganhar sua última repaginada, em janeiro de 1941.
A luta em defesa da Estação passou a integrar as comemorações de aniversário de Fortaleza, que completa 281 anos na próxima sexta-feira, 13. Amanhã, será realizada a abertura da exposição "A Estação e a Parangaba", no MAUC - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC). No dia seguinte, será a vez de uma mesa-redonda com a participação dos órgãos e organizações envolvidos. Já no sábado, 14, ocorrerá uma trilha histórica pela Parangaba que será finalizada com um abraço simbólico na Estação (ver quadro).
A Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor) mantém nos arredores da Estação um imenso canteiro de obras. E promete construir, após sua demolição, o Memorial de Parangaba, utilizando parte do material original. O CPTEP e a Fundação de Cultura, Esporte e Turismo (Funcet) da Prefeitura são contra. "Não questionamos a competência do Metrofor em propor a obra (da Estação Metroviária da Parangaba). Questionamos o local em que ela está prevista para ser construída, defende o historiador Alexandre Gomes, integrante do CPTEP.
O imbróglio começou por conta da posição do Metrofor em implantar a estação aérea. Pelo projeto da companhia, um viaduto ligará a Vila Peri ao bairro Couto Fernandes, atingindo exatamente a estação da Parangaba. "Se não fizermos esse viaduto, teremos muitos problemas, porque aqui já existe um nó viário muito grande", diz o economista Fernando Mota, assessor da Presidência do Metrofor. Se o projeto for mudado, segundo ele, vai implicar em "problemas sérios de custos e de prazos". A estimativa da companhia é de um prejuízo de R$ 12,1 milhões.
Mota rechaça a utilização do termo "destruição". De acordo com ele, o metrô não vai simplesmente "destruir" a estação. "Essa palavra é muito forte. Entendemos a importância do equipamento histórico e nos preocupamos com isso. Ninguém vai tirar a estação dali a troco de nada. Vamos construir um Memorial ao lado". Fernando Mota não soube informar o valor estimado do Memorial, que será de responsabilidade do Metrofor.
Em agosto do ano passado, a Funcet iniciou o processo de tombamento da Estação Ferroviária da Parangaba que, conforme a diretora do Departamento do Patrimônio Histórico e Cultural do órgão, Ivone Cordeiro, já está em fase de conclusão, faltando apenas ser homologado. Ela explica ainda que, aberto o processo, é realizado uma pesquisa arquitetônica e histórica, de avaliação técnica do prédio. "Antes da comunidade pedir o processo ao Conselho (Municipal de Cultura), já tínhamos a indicação da Estação para tombamento. Não há dúvidas quanto ao valor histórico do prédio. O relatório está em fase de conclusão e aponta no sentido do tombamento", informa.
Ao iniciar o processo, o prédio já é considerado tombado, mesmo que não esteja concluído, por isso a Estação não pode ser demolida pelo Metrofor, avalia Ivone. A diretora afirma que a Funcet está aguardando o término do processo de tombamento para planejar algo para o local. O professor de português e técnico em Turismo Paulo Roberto Ferreira, 36, é um dos autores do pedido de tombamento. "Nasci na Parangaba e tenho família aqui. As pessoas queriam que houvesse uma revitalização no centro histórico". O pedido à Funcet foi feito em junho de 2006, tendo sido aceito dois meses depois.
De acordo com ele, com o decreto de tombamento, o Metrofor pode ser processado e obrigado a reconstruir integralmente a Estação caso a destrua. A proposta do CPTEP é reformar o prédio e construir, em seus quatro compartimentos, uma biblioteca, um memorial, uma sala de multimídia e uma sala de aula para cursos gratuitos à comunidade, na área de turismo e pré-vestibular.
(colaborou Rocélia Santos)
"Não há duvidas quanto ao valor histórico do prédio. O relatório está em fase de conclusão e aponta no sentido do tombamento" (Ivone Cordeiro, da Funcet)
SAIBA MAIS
Como é um processo de Tombamento?
O tombamento é uma ação administrativa do Poder Executivo, que começa pelo pedido de abertura de processo, por iniciativa de qualquer cidadão ou instituição pública. Este processo, após avaliação técnica preliminar, é submetido à deliberação dos órgãos responsáveis pela preservação. Caso seja aprovada a intenção de proteger um bem cultural ou natural, é expedida uma notificação ao seu proprietário. A partir desta notificação o bem já se encontra protegido legalmente, contra destruições ou descaracterizações, até que seja tomada a decisão final. O processo termina com a inscrição no Livro Tombo e comunicação formal aos proprietários.
Fonte: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
ESTAÇÃO ANTIGA
- Situado à rua Dom Pedro II, s/n
- Em 29 de novembro de 1873, deu-se a inauguração oficial do trecho ligando Fortaleza a Arronches, hoje Parangaba, com 7,559 quilômetros, a 26,814 metros acima do nível do mar, sendo o trecho e a estação inaugurados ao mesmo tempo. A Estação Central João Felipe foi inaugurada em 30 de novembro de 1873. A locomotiva Fortaleza realizou a primeira viagem de trem sobre o trecho da Estrada de Ferro.
- A primeira estação de Arronches foi demolida, sendo reconstruída em 1927, segundo projeto do engenheiro Estêvão Mansueto, apresentando características da arquitetura residencial européia, aqui adotada na década de 20.
- O prédio sofreu nova reforma em 1939, para a construção da linha do Mucuripe, sendo inaugurado em 28 de janeiro de 1941, sob a gerência da Rede de Viação Cearense (RVC), contando também com supervisão posterior - 1957 a 1998 - da Rede Ferroviária Federal (RFFESA).
- A Estação é, junto com a Igreja Matriz da Parangaba, um dos prédios mais antigos do bairro.
- Por conta do Decreto Municipal 12.099 de 21 de setembro de 2006, a estrutura está em processo de tombamento.
Fontes: Pesquisador Paulo Roberto Ferreira e Funcet
MEMORIAL DE PARANGABA
Proposta de arquitetura, urbanismo e paisagismo
. No lugar da velha edificação, será gravado no piso em concreto a informação da planta original, com suas partições e vazaduras.
. Na área a leste remanescente do atual terminal de ônibus urbano, será implantado o Memorial. O edifício é uma estrutura em perfis "I" em aço patinável. Vedado com painéis de vidro de segurança, apresenta e aproveita conjuntos de elementos construtivos originais, tais como a coberta, a estrutura metálica dos telhados e as esquadrias.
. No interior, será implantada uma exposição referencial sobre Parangaba e a sua estação.
. Arborização proposta é de grande porte.
. A área disporá também de mobiliário urbano adequado.
. Materiais escolhidos: cimentado esponjado, cerâmica, paralelepípedo.
MOVIMENTO PRÓ-TOMBAMENTO DA ESTAÇÃO
Amanhã, dia 12 de abril
Abertura da exposição "A Estação e a Parangaba", no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), durante a manhã.
Informações
Departamento de História da UFC - Campus do Benfica. Avenida da Universidade, 2.762. Fone: (85) 3366-7742. E-mail: estacaoparangaba@yahoo.com.br.
FONTE: Jornal OPovo - www.opovo.com.br
20 comentários:
Lamentável o que a METROFOR está fazendo com o patrimônio de Fortaleza, a continuar assim qualquer dia nem a Igreja do Bom Jesus dos Aflitos escapa.
A velha estação de trem faz parte da história da antiga Arronches e atual Parangaba.
Este edifício é memória viva das gentes da Parangaba, o memo deve ser preservado pelo seu valor histórico e sentimental.
Paula Neves
Cadê as beleza da antiga Parangaba, agora só falta mesmo a Metrofor acabar com o que resta de nosso patrimônio na Parangaba.
Não queremos a destruição da velha estação de trem, nossos filhos não vão perdoar.
O progresso constrói-se preservando o passado.
Belito Alves
Parangaba ex Vila Nova de Arronches do Ceará, continua sendo notícia na imprensa de Fortaleza, pela destruição de ser património, confira a matéria do Jornal O Povo.
FORTALEZA
De cicatrizes, abraços e vergonha
Pedro Salgueiro
Especial para O POVO
O escritor Pedro Salgueiro desabafa diante da pouca memória que Fortaleza guarda de si por meio do seu patrimônio arquitetônico
VERGONHA
Algumas cidades conseguem preservar seu passado, criam leis, instituem penas, fiscalizam construções. A nossa burrinha loura desmiolada pelo sol, não - sente vergonha da sua história. Não há um prédio mais antigo, uma fachada mais original que cedo ou tarde não seja botada abaixo, para em seu lugar - altiva e impotente - surgir um daqueles quadrados blocos de concreto que a nossa "genial" e criativa arquitetura moderna andou engendrando durante o século passado inteiro. Tudo bem que nossa acadêmica elite queira construir seus monumentos ao mau gosto, todas as épocas tiveram direito de fazê-lo; porém, contudo, no entanto e entretanto (além do vulgar mas útil "mas"), não precisaria destruir o antigo. Por que não fazê-lo ao lado? - até para que futuras gerações possam comparar e, quem sabe, chegar a uma síntese.
Além dos construtores e das nossas cegas instituições públicas, o sujeito comum dos mortais, o novo proprietário de velhas casas, o simples comerciante que quer modernizar seu ponto, não pensa duas vezes (contando com a famigerada incompetência de nossos órgãos fiscalizadores do patrimônio - que tranqüilamente cochilam em suas repartições, depois do merecido pasto) e bota abaixo, por inteiro, prédios com mais de um século de existência: em seu lugar constroem um criativo jirau quadrado, com portas largas, um portão de garagem ou porta de ferro, reveste-no com lajotas de banheiro de mesma cor, e ainda exibem por aí um triunfal riso de superior inteligência.
Quando não conseguem pôr abaixo velhas construções, disfarçam as belas fachadas com indefectíveis marquises de alumínio. Há que se observar muito, arriscando-se até a ser atropelado, quem queira avistar alguma fresta de estilo arquitetônico antigo entre os flandres de nossas lojas no centro da cidade. Mas, entretanto, no entanto e contudo, além do pedante "porém", vez em quando, se observa através de alguma marquise enferrujada a viçosidade do velho estilo: descascado, reboco por cair, um janela de madeira gasta, não muito raro um arbusto crescendo em plena fachada, a boca triste de um antigo "jacaré" estilizado, aberta como a rir de nossa imbecilidade.
Faz alguns meses uma rede de supermercados comprou o prédio e enorme terreno da antiga fábrica de sabão Siqueira Gurgel, do começo do século XIX - em poucos dias pôs abaixo toda a construção e, no lugar exato da fábrica de um século de existência, erigiu um impotente estacionamento (não precisaria ser sensível e inteligente - nem atuantes e atentos nossos órgãos de fiscalização - o dono de tal estabelecimento, mas (entretanto, no ent... etc. etc.) apenas um pouco menos burro, e preservaria nem que fosse a fachada da velha fábrica, colocaria lá a administração do supermercado ou a portaria do estacionamento, e ainda por cima daria o nome da mega-bodega a imponente homenagem da nossa histórica fábrica.
Mas atenção, senhores dorminhocos dos institutos de preservação do patrimônio, professores empolados de nossas universidades de História, Arquitetura, Geografia, etc., defensores da cultura em geral, professores e saudosistas de nossa escrotinha loura desmazelada pelo sol, em cada rua de nossos bairros, a cada dia, um prédio antigo é destruído, seja pela burrice humana, pela fúria da natureza; mas, entretanto, no entanto, etc. e tal, principalmente pelo descaso e incompetência de nossas administrações municipais, estaduais e federais. Amém!
ESTAÇÃO DE PARANGABA
Depois de anos parado, depois de enterrarem muitos dólares de nossa população no buraco, literariamente, do metrô, aparecem "engenheiros" querendo derrubar a centenária Estação de Parangaba para que a cobra de ferro passe. Ridículo. Ridículo. RIDÍCULOS. Gastaria dois dias de latim para provar a burrice de tal empreitada, mas resumiria numa frase: A estação vazia, mesmo sem utilidade nenhuma, vale mil vezes mais que todas as linhas do trem metropolitano de nossa burrinha loura desmiolada pelo sol.
ABRAÇO
Há alguns meses a população, entidades culturais, estudantes de vários bairros deram um abraço simbólico no antigo prédio do Teatro de Messejana, foi a senha para que gananciosos botassem abaixo o já ameaçado monumento. Hoje, um estacionamento, de dia. De noite dizem os vizinhos escutarem vozes de antigos dramas encenados.
CICATRIZES
Fortaleza, nossa loirinha desmiolada pelo sol, em cada marca de um prédio derrubado, um atestado de nossa burrice.
Pedro Salgueiro escreveu os livros de contos
In – Jornal O Povo - 11/06/2007
Parangaba na imprensa portuguesa
MISTÉRIOS DE "VILA NOVA DE ARRONCHES" BRASIL - PARANGABA LUGAR DE BELEZA
Porangaba, Vila Nova de Arronches, Parangaba. Três nomes, um só lugar. Lugar de Beleza, segundo o poeta. O que hoje é um dos muitos bairros que compõem a grande cidade de Fortaleza (capital do Ceará estado do Nordeste Brasileiro), é também signo do desdobramento histórico cearense, pois encerra nas suas tradições e memórias o passado que remonta aos tempos da colonização lusitana em 1603.
Parangaba - (tupiguarani significa beleza, formosura...), situada nas margens da lagoa do mesmo nome, foi um dos mais antigos povoados do Ceará, o chamado aldeamento indígena de Porangaba, que os jesuítas fundaram no séc. XVI.
A vila foi criada a 26 de Maio de 1758 e inaugurada a 25 de Outubro de 1759, passando a chamar-se Arronches (Vila Nova de Arronches). Durante o império foi município, com Intendente e Câmara, ao longo de 112 anos divididos em dois períodos: de 1759 a 1835 e de 1885 a 1921. Anexada a Fortaleza, integra um dos seus mais importantes distritos. Na sua área domina o verde, com os seculares mangueirais, o clima nostálgico, a lagoa paisagística e alguns prédios históricos como o edifício da antiga Prefeitura Distrital, Casas Paroquiais e a centenária casa da Família Pedra, pioneira na indústria da panificação. É ainda na área da Parangaba que se situa o mais antigo cemitério da cidade de Fortaleza.
Como a maioria, ou talvez a totalidade dos arronchenses desconhecia que no Brasil tinha existido esta antiga vila denominada "Vila Nova de Arron-ches", a descoberta ocorreu por mero acaso, numa tarde de Verão, depois de adquirir um velho livro numa banca de rua de Lisboa.
Este livro de edição brasileira, dedicado ao sofrido Nordeste e à dura vida dos cangaceiros (3), fazia referência a um famoso bodegueiro, estabelecido nas imediações da estação de trem (comboio) de Vila Nova de Arronches.
Pesquisando em Portugal, os documentos foram surgindo, confirmando a pista surgida nesse velho livro. Mais tarde com a ajuda das novas tecnologias (Internet), cheguei finalmente a Vila Nova de Arronches, lugar onde contactei com pessoas sensacionais como o Kelson Moreira, coordenador do Instituto Amanaiara, ou a psicopedagoga Rosa Saraiva, professora na Escola General Eudoro Correia da Parangaba, dando início a uma proveitosa parceria com troca de materiais e informações, que nos permitiram um melhor conhecimento do passado histórico e das nossas tradições.
Foi nestas terras cearenses que os padres da Companhia de Jesus em 1607 deram início ao trabalho de evangelização das populações índias. Contam que, no decorrer de grande seca no sertão o Padre Francisco Pinto, homem místico a quem os nativos chamavam Pai Pina, ou Amanaiara, o "senhor das Chuvas", ajoelhando-se, acenou ao céu e fez uma oração pedindo chuva. A sua oração foi atendida e ele passou a ser muito querido entre os nativos. Ao que parece ele teria utilizado o símbolo de uma coroa de espinhos para levar a mensagem evangélica aos indígenas destas terras. Saía em procissão de aldeia em aldeia, falando do Cristo, o Bom Jesus dos Aflitos e convidando a todos para as celebrações do nascimento de Jesus, que tinham lugar pelo Natal.
Em 1608, um grupo de indígenas chamados Tucurujus, inimigos dos portugueses, mataram o Padre Francisco Pinto na Serra da Ibiapaba. Os seus restos mortais foram sepultados pelo padre Luiz Figueira, no sopé daquela serra.
Mais tarde quando em 1612 houve uma grande estiagem, os Potiguaras não tiveram receio de trazer para a sua aldeia os ossos do Pai Pina que seriam como um amuleto contra a seca.
Também neste mesmo ano veio para o Ceará Martins Soares Moreno que aqui permaneceu até 1631. Dizem que durante a sua passagem por estas terras, viveu aqui pacificamente com os índios e fez profunda amizade com um de nome Jacaúna.
Depois de longo período sem catequese, apenas em 1694 chegam os padres Manuel Pedroso Júnior e Ascenso Gago para retomar o trabalho das missões.
Em 14 de Setembro de 1758 por Ordem Régia decretada em Lisboa, o Marquês de Pombal, decretou a extinção da Companhia de Jesus, acabando os jesuítas da extinta companhia responsáveis pela missão da Porangaba, por serem expulsos para Pernambuco, com destino às masmorras de Portugal, sendo a sua aldeia transformada em vila.
Em 1758 guiada pelo padre António Coelho Cabral, a Missão do Bom Jesus da Porangaba é transferida para o local actual e passa a chamar-se Vila Nova de Arronches, sob invocação de N. Sra. das Maravilhas, em homenagem à antiga vila de Arronches existente em Portugal. Nome lusitano que manteve até 1 de Janeiro de 1944, quando em conformidade com o Decreto-Lei nº. 1114 de 30 de Dezembro de 1943, voltou a adoptar o antigo nome do aldeamento fundado pelo saudoso Pai Pina, nome ligeiramente alterado de Porangaba para Parangaba.
A devoção destes povos ao Bom Jesus dos Aflitos vinha de longe e sempre foi muito forte. Por isso ainda em 1759, fora ordenado que a jovem vila de Arronches tivesse por padroeiro, em lugar de N. Sra. das Maravilhas o Bom Jesus.
É neste mesmo lugar que ainda hoje se celebra com pompa e regozijo a Festa da chegada dos Caboclos (4), ou da Coroa do Bom Jesus dos Aflitos, que tem início no segundo domingo de Setembro, com a descida da Coroa que vai em peregrinação por diferentes lugares, só terminando no dia de Reis, a 6 de Janeiro, com a colocação da Coroa na imagem de Cristo crucificado, da igreja do Bom Jesus dos Aflitos, existente na praça dos Caboclos da Parangaba.
Segundo a tradição local, as gentes da Parangaba dizem que a Coroa do Bom Jesus, foi oferta do Rei de Portugal, aquando da construção da igreja.
Situada a poucos quilómetros de paradisíacas praias a antiga Vila Nova de Arronches (Parangaba), é hoje um importante e central bairro da capital cearense. É nele que encontramos uma importante e histórica estação ferroviária e um terminal de interligação dos transportes colectivos, agregando uma grande quantidade de linhas, que nos levam a diversos lugares de Fortaleza. Partindo de Parangaba, facilmente se chega a diferentes pontos turísticos fortalezenses, como o Centro Cultural Dragão do Mar, Mercado Central, Ponte Metálica, praias e outros lugares de interesse. No futuro seria interessante assistir-se ao estreitar de relações de Arronches com esta terra brasileira. Cabe agora às Escolas em especial a E.B.2, 3 de N. Sra. da Luz, Associações culturais e desportivas, Paróquia e em especial à Autarquia local caminharem nesse sentido. Podendo-se agora partir para um novo ciclo, que poderá ter um papel preponderante, contribuindo para o estreitar de relações de amizade, e levando eventualmente a um intercâmbio cultural bastante interessante. No futuro caso o interesse seja recíproco poder-se-ia mesmo culminar num protocolo de geminação entre ambas as comunidades.
Vejam-se os casos do Crato, ou das "Portalegres", portuguesa e brasileira, processos desencadeados pelo município do Crato e pelo jornal Fonte Nova (Portalegre), que já permitiram um interessante intercâmbio cultural entre ambas as comunidades.
Pela nossa parte no respeitante a Arronches, com este pequeno trabalho, esperamos contribuir para o estreitar de relações entre ambas as comunidades, dando início a um novo ciclo que nos permita mantermos viva a nossa memória histórica.
Para mais informação relacionada com este tema, poderá aceder à página web do Instituto Amanaiara Parangaba Brasil http://amanaiara.vila bol.com.br ou para o e-mail: emiliomoitas@mail.pt
1- Pitiguaras - grande nação índia que habitava o litoral do nordeste brasileiro, segundo José de Alencar (1984), significa "Senhores dos Vales"
2- Alencar, José de. Iracema: Texto integral. Lisboa - Livros Europa -América - 1973
3- Cangaceiros - salteadores, bandoleiros do sertão brasileiro.
4- Caboclos - mestiços de branco e índio
- Fotos Cedidas pelo Instituto Amanaiara (Parangaba)
Bibliografia consultada:
- Parangaba - Sua História e suas Tradições - Ribeiro, Esaú Costa
- Festa da Coroa do Bom Jesus dos Aflitos - Moreira, Kelson
- História do Ceará - dos Índios à Geração Cambeba - Farias, de Aírton (Tropical 1997)
- Os Retirantes - Patrocínio, José do - 1854
- A Normalista - Caminha, Adolfo
- Cultura e Opulência do Brasil - Antonil, André João - 1711 (Lisboa Pub. Alfa, S.A., 1989
- Resistência Indígena no Sertão Nordestino no Período da Pós-Conquista Territorial - Cruz, Maria Idalina
- 1787, Junho, 28; Aracati - Ofício do ouvidor do Ceará, Manuel de Magalhães Pinto e Avelar, ao (Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro), sobre as condições em que vivem os índios na vila de Arronches, bem como sobre o tráfico e comércio de crianças indígenas - Arquivo Histórico Ultramarino Lisboa
Emílio Moitas
IN: Jornal Fonte Nova – 30 Agosto de 2006
Parangaba – Antiga Vila Nova de Arronches
Amigo da praça
"Gosto de ver a praça limpa. Aqui é onde me distraio". Assim seu Francisco Xavier de 70, explica um pouco de sua relação com a Praça dos Caboclos 2, na Parangaba. Desde 2004, ele e seu Francisco Antônio Filho, 62, fazem parte do grupo que cuida e transforma o lugar para melhor. Eles fazem parte do projeto Recanto da Praça, que mantém idosos durante quase todo o dia ocupando algumas dessas áreas na cidade. "Eu respiro ar puro aqui. E para pessoas humildes como eu, esse projeto ajuda muito", diz Xavier. Ele afirma ainda que seu trabalho tem que ser feito "com muita cautela" às vezes. "Fico aqui mais para tentar educar as pessoas. A dificuldade é pouca porque o pessoal ajuda. Tenho afinidade com eles. Se vejo alguém fazendo alguma coisa errada, chamo e converso: 'Essa praça é tão bonitinha... Não faça isso, pois você pode vir aqui com sua família'".
In: Jornal O POVO de 20/06/2007
Parangaba
Livro retrata a história dos índios no Ceará.
A transformação dos antigos aldeamentos jesuíticos nos quais viviam as comunidades indígenas no Ceará Grande, nas vilas fundadas por determinação do Marques de Pombal para que se tornassem civilizados, e as conseqüências desse processo são assuntos tratados no livro que Isabelle Braz lançará com os índios da comunidade Tapeba, na próxima quinta-feira, dia 3
Nas vilas Soure, Nova de Arronches, Mecejana, Monte-mor, Novo da América e Viçosa Real, os índios do Ceará foram confinados pelos ocupantes do território cearense e ficaram recolhidos para serem educados e se tornarem "seres civilizados". A vida da população indígena local, nesses cinco vilarejos, é o principal tema tratado por Isabelle Braz no livro Vilas de índios no Ceará Grande - dinâmicas locais sob o Diretório Pombalino, obra que ela estará lançando na próxima quinta-feira, dia 3, às 17 horas, no Centro de Produção Cultural Tapeba, em Caucaia.
Escrito a partir da tese do doutorado em Ciências Sociais, concluída na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na qual a autora foi habilitada em sociedades indígenas, a publicação busca responder questionamentos relativos às implicações que esse processo causou para a identidade étnica dos índios. Já que eles viram seus aldeamentos jesuíticos de Caucaia, Parangaba, Paupina, Paiacu e Ibiapaba transformarem-se, por determinação do Marquês de Pombal, nos vilarejos que receberam outras denominações.
Isabelle afirma ter realizado essa viagem de volta ao mundo das vilas de índios do Ceará, na vigência do Diretório Pombalino, entre 1757 e 1798, para entender melhor essa experiência brasileira. Ela enfocou o processo de inserção dos indígenas no mundo colonial e as transformações socioculturais pelas quais passaram.
A autora mostra ainda um certo embaraço existente na sociedade brasileira em relação às noções de cultura, mudança cultural e identidade étnica, a ponto de ser comum alguns afirmarem hoje em dia que não existem mais índios no Nordeste. Conforme a autora descreve na introdução do seu livro, "mesmo nos meios mais intelectualizados do País é comum ouvir que o movimento indígena no Nordeste não passa de um disfarce da luta pela terra", comum aos expropriados do campo.
Por conta disso, a autora conclui que é difícil para algumas pessoas entender como os índios ditos "aculturados" podem estar reivindicando identidades étnicas, inaugurando um processo que tem sido chamado pelos especialistas de reemergência, revitalização, visibilidade e etnogênese. Esse renascimento, explica Isabelle Braz, "é a marca fundamental da resistência desse povo, que ao longo dos tempos sempre demonstrou força para enfrentar os contrários, garantindo o direito de viver de forma diferente em seus espaços". Ela porém lamenta que dos povos indígenas do Ceará apenas um até agora tenha a sua terra demarcada.
In: Jornal o Povo 31/07/2006
Fortaleza – Arronches - Parangaba
Um Pouco da sua História
Em 1º de julho de 1873 deu-se o assentamento dos primeiros trilhos, com a Locomotiva de Fortaleza andando sobre eles em agosto. Foi concluído em 14 de setembro de 1973 o primeiro trecho entre Fortaleza e Arronches, hoje Parangaba, sendo ele inaugurado em 29 de novembro. A primeira viagem que o trem fez sobre aquele trecho teve como tripulação o maquinista José da Rocha e Silva, foguista Henrique Pedro da Silva, chefe de trem Eloy Alves Ribeiro e guarda-freio Marcelino Leite.
Assim, em 1873, é inaugurada em Fortaleza a Estação Central e o primeiro trecho ferroviário do Centro à Parangaba, conhecido como Arronches, de sete quilômetros de extensão. Aos poucos, os prolongamentos da estrada são continuados e em 1876 o trecho Parangaba a Pacatuba é finalizado. Em 1877, o grupo enfrenta dificuldades financeiras, forçando o Império a assumir o controle da companhia. Um ano depois, é iniciado pelo Império um outro trecho ligando Camocim até Granja, posteriormente denominado Estrada de Ferro de Sobral.
ESTAÇÃO DA PARANGABA
Comitê não aceita réplica e memorial
11/07/2007
A Estação Ferroviária da Parangaba foi o alvo de mais uma reunião, ontem, entre o Comitê Pró-Tombamento da Estação da Parangaba (CPTEP) e o Ministério Público Estadual (MPE). Esse pedaço da memória de Fortaleza, que resiste à expansão urbana, vem provocando debates e polêmicas desde o início do ano. Representantes do CPTEP se reuniram, ontem, com a promotoria do MPE para se posicionar diante de propostas da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor) para a estação. Uma audiência foi agendada para amanhã, entre o Comitê e a Companhia.
“Tomamos conhecimento de três propostas do Metrofor, divulgadas pela imprensa, mas não apresentadas formalmente”, afirmou o historiador João Paulo Vieira. Integrante do comitê e morador da Parangaba, João Paulo disse que o decreto municipal de tombamento da estação tem sido desrespeitado com as obras no entorno.
O Metrofor avalia três propostas para conservação da estação: a construção de uma réplica nas proximidades, com investimento aproximado de R$ 200 mil; um memorial para preservar partes da estação com custo de R$ 560 mil; e o deslocamento do prédio para nove metros do local original, com o auxílio de macacos hidráulicos.
O memorial e a réplica da estação estão descartados para o Comitê Pró-Tombamento. “Para a alternativa do deslocamento, teria que ser apresentado um laudo técnico garantindo que não se colocará em risco a estrutura do prédio. O melhor mesmo seria o desvio do trajeto do metrô”, frisa João Paulo.
A técnica do deslocamento só foi feita na Europa e teria o custo de R$ 5,2 milhões, segundo Clóvis de Lima Picanço, diretor de desenvolvimento e tecnologia do Metrofor. Para ele, uma solução viável e que também traria um significado histórico seria a construção de uma réplica. “Somente após o bem tombado definitivo, é que poderemos justificar os gastos, com qualquer alternativa que seja”, avaliou Clóvis.
Outra alternativa para a estação seria fazer um novo projeto que não passasse pelo trajeto atual, um desvio. Custaria 12 milhões, conforme Clóvis Picanço. A polêmica se dá porque, no projeto da companhia, um viaduto ligará a Vila Peri ao bairro Couto Fernandes, atingindo a estação. A estação foi tombada por decreto municipal em setembro de 2006.
In: Jornal O Povo
LAGOA DA PARANGABA
Dois jovens morrem afogados
Uma criança de 10 anos morreu após tentar salvar a vida de uma adolescente de 13 anos que estava se afogando na lagoa da Parangaba. A menina também morreu
16/07/2007
Os dois jovens foram encontrados abraçados dentro de uma vala na beira da lagoa (Foto: Sebastião Bisneto) Uma criança e uma adolescente morreram afogados na tarde de ontem, na lagoa da Parangaba. Segundo o Corpo de Bombeiros, Andréia Mendes de Souza, 13 anos, estava se afogando quando Ivanilson Pereira Galdino, 10, tentou salvá-la e acabou também morrendo. A cena foi presenciada por outra criança de 10 anos, que estava tomando banho no local com as duas vítimas. O fato ocorreu 10 dias depois da morte do adolescente Luiz Cláudio de Oliveira, 14, que também morreu, na Praia da Leste-Oeste, após salvar três amigos que estavam em dificuldades no mar.
Segundo o subtenente do Corpo de Bombeiros, Mário Martins, os três jovens estavam tomando banho na lagoa da Parangaba quando Andréia caiu em uma vala. Ivanilson, ao ver a jovem se afogando, foi tentar salvá-la e acabou caindo também no buraco. Ele afirmou que nenhuma das vítimas sabia nadar. "A vala tem uns quatro metros de profundidade. Ela deve ter puxado ele, tentando se salvar. Encontramos os dois abraçados dentro da vala, situada na beira da Lagoa", contou.
Segundo o subtenente, ao ver a cena, uma criança de 10 anos, que acompanhava os dois, saiu em direção à feira da Parangaba para pedir socorro. O lavador de carros Bruno Vieira foi o primeiro a correr para a lagoa na tentativa de salvar os jovens. "A menina chegou aos gritos, dizendo que tinha duas pessoas se afogando. Eu nadei essa parte toda, passei por baixo dos matos (aguapés) mas não os encontrei", disse.
Ivanilson era o segundo filho de três irmãos. Ele estudava e, todo domingo, ia à feira da Parangaba acompanhar a mãe, que trabalha no local como vendedora autônoma. O pai de Ivanilson morreu há dois meses, em um acidente de moto. Isto é o que relatou o tio dele, o também vendedor Pedro Antônio Rodrigues.
Amigo da família do garoto, Elano Lima disse que Ivanilson foi, ontem pela manhã, várias vezes falar com a mãe, mostrar camarões que estaria pescando na lagoa, tendo inclusive trocado de roupa, pois a que ele usava estava molhada. "Por volta das 14 horas, quando a feira acabou, a mãe dele percebeu que ele não tinha aparecido. Todo mundo aqui na feira começou a procurá-lo, até que uma menina chegou gritando que tinha dois meninos se afogando. Quando chegamos na beira da lagoa, encontramos as roupas dele", relembrou.
No local, estava apenas o irmão de Andréia, que estava em estado de choque. Segundo comerciantes do entorno da lagoa, Andréia era menina de rua e passava o dia pedindo dinheiro no terminal da Parangaba, em frente à lagoa.
O local onde os jovens estavam tomando banho é distante uns 200 metros do local onde a Feira da Parangaba é realizada. O acesso ao local é difícil, já que o mato toma conta da estrada que leva ao que seria a beira da lagoa. Conforme o subtenente Martins, a área onde os jovens se afogaram não é balneável. "É um local distante, cujo acesso é difícil. Não é um local indicado para banho. Por isso que não há salva-vidas aqui", afirmou.
In: Jornal o Povo
16-07-2007
PARANGABA - FORTALEZA
PRÉDIOS HISTÓRICOS (16/7/2007)
Abandono reflete falta de identidade
14 edificações devem ser tombadas definitivamente pela Prefeitura. Seis correm o risco de desmoronar
“O prédio é velho, está todo destruído, quase caindo, mas dizem que tem valor para a cidade. Faz parte da história. Mas, pra que serve mesmo?!”. A pergunta do vigia José Aureliano da Costa Júnior retrata bem a falta de identificação do fortalezense com seu patrimônio histórico e cultural. No caso, ele questiona sobre a antiga escola Jesus, Maria, José, situada no Centro de Fortaleza.
José Aureliano faz a pergunta e aponta para a edificação que continua em pé por graça do poder divino. Toda a sua estrutura está por um fio. “Acho que se não o ajeitarem rapidamente, até seu valor histórico virará pó, igual aquela madeira ali que já foi viga e agora está no chão se acabando aos poucos”, diz ele. Confessa que não sabe o significado do prédio para a cidade. Explico que ele foi inaugurado em 1905 e a intenção da Prefeitura é fazer dali a Casa da Fotografia.
“Para quando? Até acho bom, mas será mais barato derrubar, esquecer essa coisa de história e construir um novo, sai mais barato e ficará mais bonito!”, sentencia ele de braços cruzados, olhando mais uma vez o local e balançando a cabeça de forma negativa.
A antiga escola faz parte da relação de 14 prédios tombados provisoriamente pela Prefeitura. O processo corre há um ano e emperra na burocracia. Nenhum desses equipamentos foi requisição da população para protegê-los legalmente.
Essa falta de identidade do fortalezense alivia a pressão sobre a gestão municipal que “vai empurrando os processos de restauro com a barriga”. A avaliação é do professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza (Unifor), Napoleão Ferreira.
Para ele, o fato reflete a falta de uma memória coletiva. “Por isso, o descaso, o desamor”.
O comerciante José Alves também confessa que não sabe qual a importância de se conservar os prédios históricos da Capital. “Eu sei que meu cunhado, que é de Recife, conta que lá todo mundo sabe contar tudinho sobre os prédio velhos da cidade. Aqui nunca ouço falar sobre essas coisas”.
O aumento da população de Fortaleza, a maioria vinda do Interior ou de outras cidades do País, declara o professor Napoleão, está relacionada com a falta de apego pelos monumentos e bens imateriais. “Isso resulta na ausência de tradição, de transmitir o legado de geração para geração. O pior é que não vejo muita saída”.
A única possibilidade, afirma, seria a definição de políticas públicas para a cultura. “O trabalho deveria ser desenvolvido pelos gestores e um grupo de intelectuais de vanguarda”.
Para o professor do Curso de Comunicação Social da UFC, Gilmar de Carvalho, a idéia de “tempos modernos” sempre foi muito sedutora e, em nome do progresso, afirma, não hesitamos em destruir muita coisa.
“Muito do patrimônio histórico e afetivo foi demolido no tempo da ditadura militar, quando a sociedade civil não estava organizada e a consciência preservacionista não tinha os fundamentos de hoje”.
Assistimos omissos, analisa ele, à boa parte dessas agressões, justificadas pela especulação imobiliária. O Centro da cidade ficou banguela, ressalta, com a infestação de estacionamentos, as fachadas ganharam lambris de metal (com apoio de projetos que propunham um Novo Centro), escondendo os arabescos “art-nouveau” e o geometrismo “art-déco”, substituindo as ogivas por vigas de concreto e assim por diante.
Não é só amor ou informação que faltam, diz Gilmar, mas a consciência de que tudo isso nos pertence e vai além da nossa desmobilização, que dá sinais promissores de mudanças. “Trata-se de um processo lento. Será necessário tempo”.
Mais informações: Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza (Funcet). Rua Pereira Filgueiras, 4. Centro de Fortaleza. 3254-5106
EDIFICAÇÕES EM PERIGO - Tragédia quase anunciada
Enquanto o processo de tombamento não anda, seis edificações estão se deteriorando a cada dia — Mercado da Aerolândia; Escola de Música Luís Assunção; Casa do Português; Bar do Avião; Lord Hotel e Escola Jesus, Maria, José. Além desses, o Colégio Dorotéias, fechado há pouco mais de dois anos, começa a ser vítima da ação dos vândalos, marginais e desocupados.
O restante— Santa Casa de Misericórdia; Imparh; Edifício São Pedro, Náutico Atlético Cearense; Ideal Clube e Mercado dos Pinhões — ainda estão funcionando.
Um dos casos mais preocupantes é da Escola de Música Luiz Assunção. Localizada no entorno do Parque das Crianças, na Rua Solon Pinheiro, o prédio respira história. São 130 anos de existência. Em estilo neoclássico, o edifício de dois andares está abandonado e com toda a sua estrutura danificada.
A sala de entrada, onde funcionou um auditório, está um buraco em parte do teto, que desmoronou no início do ano. Só não está em pior situação pela dedicação do diretor da escola, professor João Castelo Branco. “Aqui ainda está de pé pelo amor que temos em ensinar a música aos jovens alunos”, afirma ele, com lágrimas nos olhos. “É a minha vida!”, reafirma, como a pedir socorro para que o processo de tombamento ande mais rápido e com ele, a ajuda tão esperada.
Outro que balança mas não cai, é o Bar do Avião, na Parangaba. Está localizado à Avenida João Pessoa, entroncamento com a 15 de novembro — que levava ao campo de pouso do Pici e ao antigo acesso ao Aeroporto do Cocorote .
Foi inaugurado em 23 de outubro de 1949, por Antônio de Paula Lemos.
Hoje, no local, funciona uma borracharia. O trânsito pesado da João Pessoa e as obras do metrô fazem a pequena edificação trepidar. “Trabalho aqui há 45 anos e acho que esse negócio de tombamento não vai para frente“, diz o proprietário Antônio Luís Sampaio.
Ele confessa que tem medo de que o prédio desmorone a qualquer momento. “O pior é quando chove, fico rezando para nada de mal aconteça e o prédio continue de pé”, diz.
JESUS, MARIA, JOSÉ - Escola balança e por pouco não cai
Entregue à própria sorte, o prédio da antiga escola Jesus, Maria, José corre o risco de desmoronar totalmente a qualquer momento. O abandono impressiona quem passa pelo local, hoje patrimônio histórico de Fortaleza. Rachaduras por todas as paredes, infiltrações, lixo, destruição, as salas estão cheias de escombros, com restos do foro de gesso que caiu, as portas — que não foram roubadas por vândalos — estão escoradas por pedras e parte do teto que cedeu há seis meses devido a ação dos cupins que corroem toda madeira das vigas, vidros quebrados, pichações. Toda a estrutura física, principalmente da ala direita, está ameaçada.
Um tapume colocado há dois anos na sala de entrada tenta disfarçar a situação precária do prédio, situado na Rua Coronel Ferraz, esquina com Avenida Santos Dumont, no Centro da cidade.
Até os vigilantes que fazem a segurança do prédio confessam que passam o tempo observando se alguma parte mais vai cair para dá tempo de escaparem. “Mais que isso, nem tenho coragem de percorrer toda a área à noite, porque os marginais entram aqui por trás na maior facilidade”, diz o vigilante Reginaldo Gonçalves. Ele conta que há uma semana, alguns viciados entraram no prédio para fumar maconha e roubar o resto das portas. “Tive que atirar para cima para afugentá-los”, diz ele.
O universitário Luís Melo de Sousa também pára diante da edificação. “Sinceramente não sei o que era isso aqui. Poderia até, se conseguirem salvá-lo, ser uma escola ou um centro cultural. A estrutura é muito bonita, mas atualmente está sem uso, o que não é legal”.
O local onde funcionava a instituição foi inaugurado em 1905, pelo bispo de Fortaleza, dom Joaquim José Vieira. A escola de artes e ofícios abrigava meninos. Ali, eles aprendiam uma profissão. Hoje, a Sagrada Família, no alto do prédio, é o único detalhe ainda conservado. O prédio foi tombado provisoriamente por decreto em janeiro deste ano e aguarda fim do processo para decreto definitivo da Prefeitura.
INAUGURAÇÃO
• 1897 Ano de instalação do Mercado dos Pinhões
• 1968 Data da entrega do Mercado da Aerolândia
• 1905 Data da inauguração da Escola Jesus, Maria, José
• 1929 Ano da inauguração do Colégio das Dorotéias
• 1950 Ano em que o Edifício São Pedro foi entregue
• 1929 Marca a criação do Clube Náutico Atlético Cearense
• 1931 Quando o Ideal Clube foi instalado
• 1950 Construção da Casa do Português
• 1949 Quando começou a funcionar o Bar do Avião
• 1956 Início das atividades do Lord Hotel
• 1930 Ano da inauguração do prédio do Imparh
• 1857 Ano da conclusão da obra da Santa Casa de Misericórdia
• 1875 Ano em que o prédio onde funciona a Escola de Música Luís Assunção foi inaugurado
• 1930 Década em que pai de Rachel de Queiroz adquire sítio no Pici
LÊDA GONÇALVES Repórter :Diário do Nordeste
Metrofor, acidente causa um morto
É incrível: "O gerente do consórcio construtor do trecho, Aglaildo Tavares, informou que a empresa prestará auxílio às famílias das vítimas." E agora? Que medida de segurança será tomada? Quantos terão que morrer para poder o Governo rever seus conceitos? O Metrofor é a maior prova de que somos acomodados em desculpas de governantes ambiciosos e corruptos. Tenho certeza de que se o Metrofor beneficiasse através de seu uso a classe dominante já havería terminado sua construção, que já dura quase dez anos. Fortaleza perde suas riquezas e está se prostituindo por migalhas para favorecer a nobreza. Somente quando o povo se conscientizar do poder de sua voz e enfrentar seus medos poderemos ver uma "Fortaleza Bela" e um Estado economicamente bem estruturado, com seu índice de empregos bem distribuídos, para que não venhamos chorar pelos nossos famíliares que deram a vida em troca de alguns trocados. Acorda Fortaleza!
PAULA LUIZA BARROS BEVILÁQUA CUNHA
Parangaba a antiga Arronches não é mais a mesma!
O bairro da Parangaba é um desses locais de Fortaleza que entranham na pessoa. A gente sai dele - deixei-o há dez anos - mas o danado permanece grudado na memória. A igreja, o trem, a lagoa, o Bar Avião e as histórias contadas pelos antigos moradores ainda estão na minha cabeça. De tão antigo, o bairro, às vezes, parecia um retrato pendurado na parede, isso até os últimos cinco anos. De repente, surgiu uma loja nova de tecidos; depois, colégios de grande porte; agora em 2007, um novo banco e a espera é pela inauguração de um supermercado de rede nacional. O Metrofor? Para mim, entretanto, a não ser pela fila de pilastras erguidas até nove metros do chão beirando o trilho - ainda não consegui absorver essa nova imagem um tanto quanto futurista do bairro -, o metrofor não é novidade. Só está tornando real uma das muitas histórias contadas pelos antigos moradores durante os mais de 25 anos que morei no local. Hoje, o novo já se mistura ao velho no antigo bairro do Arronches. Os moradores estão inseguros, querem a velocidade, o futuro, mas temem o peso das perdas. Há ainda o temor de que caso a obra pare, precise-se inventar uma outra serventia para a fila de pilares erguidas em direção ao céu. Se não puder cumprir seu papel de segurar os trilhos lá no alto terá como única função, a de mudar definitivamente a imagem horizontal do lugar.
erilene@diariodonordeste.com.br
PARANGABA (18/9/2007)
Alunos percorrem pontos históricos
Não é todo mundo que mora no bairro e conhece como aquela comunidade se desenvolveu, quem morava ali séculos atrás, quais monumentos ou mesmo casas revelam a história do lugar. Com base nisso, estudantes da Escola Sesi Eusébio Mota de Alencar percorrem, neste mês, ruas e equipamentos da localidade para executar trabalho orientado pela Secretaria Municipal da Educação (SME) para que os alunos de escolas públicas conheçam melhor a cidade.
Ontem, adolescentes da 8ª série do Sesi da Parangaba começaram o trabalho indo ao primeiro cemitério de Fortaleza, que fica no bairro, à Praça da Igreja Matriz e à casa mais antiga. Para as estudantes, foi uma surpresa conversar com moradores e descobrir aspectos até então desconhecidos para elas, como o fato de que, ali, já houve tribos indígenas e plantações de algodão.
“O bairro evoluiu muito, cresceu, mas precisa guardar sua memória. Isso deve partir dos moradores. Se eles não se interessarem, quem vai se interessar”, questiona a estudante Gabriela Farias Gouveia de Sousa, de 13 anos.
Ela e colegas foram a alguns locais históricos do bairro acompanhada da voluntária Iracilda Sousa, mãe de uma das alunas. No percurso, o que mais chamou a atenção de Thamires Morais Marinho, de 13 anos, foi o cemitério. Ela nunca havia entrado no local e ficou impressionada com o tamanho e com o estado dos túmulos. “Lá precisa de mais cuidado. Tem gente limpando, mas as famílias devem ajudar também, até em consideração à pessoa que está ali”, sugere.
A estudante Priscilla Gonçalves, 13 anos, apesar de estudar no Sesi da Parangaba, nunca havia andado pelo bairro como fez nos últimos dias. O que mais impressionou foram essas construções do Metrofor. Acho que vai demorar muito, porque tem muito para se fazer ainda. E vai precisar de muita gente também. Vai melhorar o transporte aqui, mas vai demorar porque as obras são lentas”, observa a aluna.
HISTÓRIA
1- A Parangaba (nome que em tupi-guarani significa beleza, formosura) já se chamou Porangaba e Vila Nova de Arronches
2- O povoado, que se formou a partir das margens da lagoa, é um dos mais antigos do Ceará
3- No século XVI, os jesuítas fundaram ali o Aldeamento Indígena de Porangaba
4- A vila só foi criada em 26 de maio de 1758 e inaugurada em 25 de outubro de 1759, passando a se chamar Arronches (Vila Nova de Arronches).
In: Diário do Nordeste
PARANGABA – Antiga Arronches
Feira da Parangaba Também conhecida como Feira dos Pássaros, é um grande mercado de comércio popular (e informal). É possível encontrar tudo (ou quase tudo) o que você puder imaginar por lá: de controle remoto de vídeo cassete a papagaio. Se você teve seu som de carro retirado indevidamente por terceiros, é capaz de achá-lo à venda por lá. Lagoa da Parangaba. É uma das maiores em volume de água de Fortaleza. O local já foi considerado área de lazer de uma região nobre da capital. A Lagoa da Parangaba é uma das que têm maior profundidade, mas como todas as outras, está poluída e precisa de ações urgentes para acabar com os esgotos clandestinos. A urbanização da lagoa se faz necessário para preservá-la e para reduzir a ação de infratores. Estação de trem de Parangaba. Inaugurada em 30 de novembro 1873, a Estação da Parangaba é, junto com a igreja da Parangaba, um dos prédios mais antigos do bairro. A data de inauguração coincide com a da Estação João Felipe, porque foi o primeiro trecho a funcionar. Atualmente está ameaçada de ser destruída para se construir no local uma estação mais moderna que se adeqüe ao metrô, parte da população tem se mobilizado em defesa de sua historia.Terminal da Parangaba Terminal de interligação dos transportes coletivos, agregando uma grande quantidade de linhas,que levam a diversos lugares de Fortaleza. Partindo de Parangaba, facilmente se chega a diferentes pontos turísticos fortalezenses, como o Centro Cultural Dragão do Mar, Mercado Central, Ponte Metálica, praias e outros lugares de interesse. Cerca de 210 mil pessoas circulam por dia no Terminal da Parangaba. Cenas de desrespeito ao usuário como: longas filas, longos períodos de espera, ônibus superlotados e desrespeito aos idosos são muito comuns. O local também não oferece muita segurança aos usuários. Terminal da Lagoa. Ponto de apoio ao Terminal da Parangaba. Interliga os usuários a outros bairros, sobretudo da zona sul de Fortaleza. Também são muito comuns cenas de desrespeito aos usuários e também não oferecem muita segurança. Localiza-se em frente à Feira e a Lagoa da Parangaba.
Igreja do Bom Jesus dos Aflitos (Igreja da Parangaba. Foi nestas terras cearenses que os padres da Companhia de Jesus em 1607 deram início ao trabalho de evangelização das populações índias. É neste mesmo lugar que ainda hoje se celebra a Festa da chegada dos Caboclos ou da Coroa do Bom Jesus dos Aflitos, que tem início no segundo domingo de Setembro, com a descida da Coroa que vai em para longa peregrinação pela cidade ate retornar a igreja do Bom Jesus dos Aflitos, existente na praça dos Caboclos da Parangaba.
Parangaba
Sepulturas violadas no Cemitério
PARANGABA – Uma grave denúncia foi feita pelo padre ortodoxo Elói Alves, da Paróquia de Parangaba. Túmulos do cemitério daquele bairro estão sendo diariamente violados e os restos mortais jogados nas margens da linha férrea, próximo à estação ferroviária.
Partes de um corpo foram jogadas ao lado dos trilhos, no final da Rua Dom Pedro II. O ‘rabecão’ do Instituto Médico Legal (IML) compareceu ao local e removeu os restos mortais.
INVASÃO - “O cemitério de Parangaba está entregue às moscas. Não há vigilância durante o dia, nem à noite. Por conta disso, vândalos estão violando as sepulturas e retirando os restos mortais, que podem estar sendo usados em rituais religiosos. Não sabemos mais para quem apelar”, disse o padre Elói, visivelmente preocupado com a situação.
A Rua Dom Pedro II, no trecho entre o Cemitério de Parangaba e a passagem de nível na Rua Eduardo Perdigão, tornou-se o local onde os vândalos vêm jogando as ossadas retiradas dos túmulos. “Durante a noite e nas madrugadas, eles invadem o cemitério sem qualquer problema. Violam as sepulturas e retiram as ossadas. Isso é o cúmulo”, conta o religioso, que já comunicou o fato a diversas autoridades, mas, segundo ele, não obteve qualquer resposta. Ainda, conforme o padre, a situação foi levada ao conhecimento da Secretaria Executiva Regional IV (SER IV). “Mas, até agora não tivemos uma solução para o caso”.
O padre conta que comunicou o fato também ao diretor técnico-científico da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, Francisco Simão.
Os moradores da Rua Dom Pedro II informaram que o logradouro há tempos está abandonado. A rua tem precária iluminação pública e dá acesso a uma favela. Por conta disso, os violadores dos túmulos não encontram qualquer dificuldade para jogar ali as ossadas. Além disso, os assaltos e até tiroteios entre marginais e a Polícia tornaram-se comuns.
Não bastasse o crime de violação das sepulturas, os moradores e o padre alertam para o perigo causado à saúde pública. “Alguém precisa tomar uma providência”, afirma o religioso.
IN. O Mossoroense
1 de outubro de 2005
Parangaba - Nª. Srª. da Aparecida
primeira manifestação da devoção a Nossa Senhora Aparecida de que se tem notícia, em Fortaleza, data de 1941 quando os padres salvatorianos, responsáveis pela paróquia de Parangaba deram início à construção de uma capelinha dedicada à Virgem Maria localizada na região da antiga Pirocaia atual bairro do Montese.
No dia 28 de julho de 1943, a capelinha foi demolida para ampliação do campo de pouso do Cocorote, o antigo aeroporto Pinto Martins. A imagem de Nossa Senhora foi levada para a matriz de Parangaba e ficou aguardando a construção de um novo templo nas cercanias do aeroporto.
No dia 7 de setembro de 1951 ocorreu a solenidade de lançamento da pedra fundamental da igrejinha do Montese como ficou conhecida. O templo começou a ser ampliado no dia 18 de junho de 1990 e um ano e três meses depois foi reinaugurada com uma celebração eucarística presidida pelo então arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider.
No dia 8 de dezembro de 1958 a igrejinha passou à condição de matriz com a criação da paróquia pelo decreto 131/58 assinado por dom Antônio de Almeida Lustosa que era o arcebispo de Fortaleza. A paróquia de Nossa Senhora Aparecida teve como primeiro pároco o padre Paulo Eduardo Andrade Ponte. Atualmente, o cargo é do padre Severino Guedes que este ano já inicia os preparativos do jubileu de ouro da paróquia em 2008.
FONTE: Pesquisador e fundador do Montese, Raimundo Nonato Ximenes
Parangaba - o destino da velha Estação Ferroviária
O destino do prédio da Estação Ferroviária da Parangaba, que guarda 130 anos da história, ainda não foi definido. O local abrigará uma estação do metrô de Fortaleza. Por isso, há mais de um ano, desde setembro do ano passado, a ameaça de demolição do prédio fez com que a Prefeitura tombasse o prédio provisoriamente. Mas a sua preservação depende do tombamento definitivo que ainda está sendo estudado pelo Município. Enquanto isso, dados do Metrofor, de novembro, revelam que mais de 62% da obra total do viaduto que vai ligar os bairros Couto Fernandes e Vila Peri e que implica na derrubada da Estação da Parangaba já foram construídos.
A diretora do Patrimônio Histórico e Cultural da de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza (Funcet), Ivone Cordeiro, informou ao O POVO que a documentação sobre o tombamento definitivo da Estação Ferroviária ainda está sendo analisada pela assessoria jurídica da Prefeitura. "Após isso, (a documentação) é encaminhada para a prefeita (Luizianne Lins) definir pelo tombamento definitivo ou não". Ela explica que o único aspecto que sustenta a Estação no seu lugar de origem é o fato dela ter sido tombada provisoriamente. "Por isso é que não foi demolida. O que estamos analisando é o processo de tombamento definitivo", frisou.
Mas Ivone Cordeiro não descartou um possível deslocamento da edificação para outra área próxima ao local onde está hoje, uma das propostas apresentada pelo Metrofor. Porém, informou que somente após a definição do tombamento será feita uma consulta com especialistas para análise das possibilidades de destino do prédio. "Mas, não há data definida para isso", acrescentou.
O assessor da presidência do Metrofor, Fernando Mota, informou que foram apresentadas três propostas à Prefeitura e que estão analisadas. Além do deslocamento, poderia ser feita uma réplica da Estação ou um memorial. "Tudo depende da definição pelo tombamento do prédio. Estamos esperando a decisão da Prefeitura sobre as três propostas. A mais cara é o deslocamento, mas estamos abertos a negociações", disse.
Tanto o memorial como a réplica da estação foram descartados pelo Comitê Pró-Tombamento da Estação Ferroviária da Parangaba (CPTEP), cujos integrantes já fizeram vários protestos para manter a estrutura histórica e resgatar o valor cultural da edificação. "Estamos aguardando decisão judicial e também estamos fechando acordo com o governo, mas ainda não há nada definido. Numa das últimas reuniões, nós propomos fazer um trenzinho com dois vagões que ainda existem abandonados e uma máquina pequena saindo da Estação, mas ainda não há nada acertado", disse ao O POVO Jeová Pedra, um dos integrantes do comitê.
Comentários:
Ah, então agora vamos construir obras modernas por toda parte e demolir tudo quanto for antigo, já que passado é coisa de museu - e museus são coisas um tanto inúteis, né? Se o Metrofor fosse passar por cima da minha casa, eu não ia me dar por satisfeita em tirar uma foto e guardar na carteira. Por questões de afetividade, de dar o devido valor às coisas. Pode ser que a estação seja um prédio feio e inútil, mas quem tem que dizer isso não são só o governo do estado ou a prefeitura, nem só a construtora responsável pela obra. Quem tem que dizer isso também é a população. Até porque não adianta nada preservar o prédio se ele não for aproveitado. Se é pra deixar a estação com uma placa de "tombada pelo IPHAN" sem ocupá-la com alguma coisa útil, e deixá-la como esconderijo de bandidos, melhor o Metrofor passar por cima. Pelo menos é uma melhoria no ir e vir do pessoal da área. Pensar esse tombamento implica pensar na construção de um equipamento cultural pra cidade. De fato, isso devia ter sido previsto no projeto do Metrofor. Mas antes acontecer essa discussão de patrimônio histórico agora do que ver essa estação ser derrubada com o silêncio de todo mundo.
Roberta
Infelizmente, ainda é incrível a falta de noção de preservação do patrimônio histórico e da identidade da nossa cidade. Que essa polêmica sobre a destruição do prédio sirva como um ponto de partida para uma reflexão sobre a preservação dos espaços da nossa cidade. Se Cicero Mayk e Aristóteles Tavares forem velhos, seguindo suas próprias lógicas, então tirem uma foto deles, guarde na carteira e deixa o Metrofor passar por cima deles também.
Yuri Leonardo Silva
In: Jornal o Povo
18/12/2007
Parangaba – Arronches
ESTRADAS DE FERRO
Ceará nos trilhos
Progresso, integração, arquitetura e história ganham as páginas de “Estradas de Ferro no Ceará”, livro de Francisco de Assis Lima e José Hamilton Pereira
Os trens estabelecem os caminhos do progresso cearense, provocam mudanças na sociedade e criam uma nova paisagem. Em “Estradas de Ferro no Ceará”, Francisco de Assis Lima e José Hamilton Pereira remexem o baú do transporte ferroviário no Estado, mergulham na memória, e revelam uma história feita de desafios, sonhos, construções ousadas e prédios que o tempo se encarregaria de fornecer valor histórico.
A primeira concessão para a construção de estradas de ferro no Ceará deu-se com um decreto de 1857, em um empreendimento que deveria construir e explorar uma via férrea a qual, partindo de Camocim e imediações de Granja, seguiria para o Ipu, passando por Sobral. Um projeto arquivado. Outro marco da história ferroviária cearense data de 1968, quando foi apresentado o projeto de uma linha ferroviária ligando Fortaleza à vila de Pacatuba, com um ramal para a cidade de Maranguape. Outro projeto que não saiu do papel.
Só dois anos depois, nasceria o projeto da primeira estrada de ferro construída no Ceará, a Via Férrea de Baturité. E, em 13 de março de 1873, chegavam a Fortaleza as primeiras locomotivas, desembarcadas no trapiche do Poço das Dragas (antigo porto). “O prédio da estação ainda estava em obras quando recebeu as máquinas à vapor que, sendo arrastadas por tração animal com a afixação de trilhos portáteis, foram transformadas num show de apresentação, ao desfilarem pela Rua da Ponte (Alberto Nepomuceno) e Travessa das Flores (Castro e Silva) até a Praça da Estação”, explicam os autores.
Um novo “espetáculo” aconteceu cinco meses depois, quando a locomotiva “A Fortaleza” rodou cinco vezes - desta vez com os próprios motores - da Estação Central até a parada “Chico Manoel”, no Cruzamento das Trincheiras, atual Liberato Barroso. O primeiro trecho da ferrovia, ligando o Centro ao Distrito de Arronches (Parangaba), ficou pronto em setembro de 1873, quando, com restrições, uma locomotiva e alguns vagões chegaram, pela primeira vez, a Parangaba.
Em seguida, foram inauguradas as estações de Mondubim, Maranguape e Maracanaú (1875) e Monguba e Pacatuba (1876). O governo imperial encampou a ferrovia em 1878 e estabeleceu algumas mudanças no projeto original, além de ordenar a construção de uma nova estrada ligando o porto de Camocim até Sobral e o início dos estudos para a construção da nova estação central, que seria inaugurada em 1880.
In: Jornal O Povo
Délio Rocha
Repórter
Terror na Parangaba – Fortaleza
Ou Terrorismo da Metrofor
Começa o ano e os moradores do Parangaba continuam na expectativa e inseguros com relação ao futuro da Estação Ferroviária do bairro, construída no século XIX. Segundo o Comitê Pró-Tombamento da Estação de Parangaba (CPTEP) técnicos e engenheiros do Metrofor estão espalhando pela redondeza a noticia de que a demolição do prédio acontecerá a qualquer momento. O "terror" psicológico, principalmente sobre os idosos integrantes do movimento vem sendo realizado desde a primeira semana de janeiro. Já foram marcadas duas datas: 10 e 15 de janeiro. O boato agora é que no dia 20 de janeiro de 2008, no próximo domingo, tudo irá virar pó. A Funcet , que emitiu parecer favorável ao tombamento do prédio, diz nada saber e que o processo de tombamento está aguardando apenas assinatura da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins.
– METROFOR marca dia para derrubar a ESTAÇÃO DA PARANGABA
Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.
Em março de 2006, um grupo de moradores da Parangaba iniciou
uma mobilização contra a derrubada de sua estação ferroviária, uma das
últimas edificações históricas ainda preservadas no bairro que, com as
intervenções urbanas feitas nos últimos anos (vide: viaduto da Osório de
Paiva, terminal de ônibus e Metrofor), vem tendo seu patrimônio
arquitetônico devastado, destruído, demolido, esquecido.
Entretanto, a estação de Parangaba continua de pé, fruto da
mobilização popular. O surgimento do Comitê Pró-Tombamento da Estação de
Parangaba (CPTEP) vem demonstrando à sociedade fortalezense que a população
pode, deve e quer intervir nos rumos da preservação da memória na cidade.
Após alguns meses da polêmica questão, a preservação da estação de
Parangaba voltará a ser, nos próximos dias, alvo de discussão em Fortaleza.
As propostas até então apresentadas pela administração do Metrofor não
contemplam a preservação da edificação, mas sempre sua demolição.
A chamada “transportação” (deslocamento) seria a única forma de
salvaguardar a integridade física do imóvel, já que os pilares de
sustentação do metrô encontram-se rentes à estação. Processo efetuado por
empresas estrangeiras e ainda não realizado no Brasil, este deslocamento já
foi descartado pela administração do Metrofor, por não constar em seu
orçamento financeiro.
A proposta do Metrofor, de construir o chamado Memorial da Parangaba,
inspirado na estação, não é aceito pelo CPTEP, pois significa erguer um
monumento em memória à destruição do patrimônio da cidade, à revelia da
vontade da comunidade. Curiosamente, a obra foi idealizada pelo arquiteto
Romeu Duarte Júnior, Superintendente da 4º- Secretaria Executiva Regional
do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão
que é responsável pela preservação e tombamento de edificações
significativas para a história e memória nacionais. Ou o IPHAN mudou de
função?!!!
Atualmente, técnicos e engenheiros do Metrofor marcam continuamente o dia
da demolição da estação. Espalhando a notícia pelo bairro, fazem terror
psicológico com idosos integrantes do CPTEP, afirmando que podem ir
“preparando os lenços” para limpar as lágrimas. Já marcaram por três vezes
esta demolição: dias 10, 15 e agora, 20 de janeiro de 2008.
Por se tratar de imóvel já tombado por decreto municipal, tais ameaças
vão de encontro ao Recomendatório do Ministério Publico Estadual, que
determinou que nenhuma intervenção que ameaçasse as estruturas da
edificação poderiam ser levadas a efeito. Também não estão sendo levadas em
consideração as leis que regem a proteção do patrimônio, que asseguram
constitucionalmente que bens tombados não podem ser sequer modificados,
quanto mais demolidos.
A Funcet (Fundação de Esporte, Cultura e Turismo de Fortaleza), que após
meses de estudos técnicos emitiu parecer favorável ao tombamento da
Estação, alega que de nada sabe acerca da pretensa demolição. Segundo a
diretora do Departamento de Patrimônio da FUNCET, Dra. Ivone Cordeiro, o
processo encontra-se atualmente concluído e aguardando apenas a assinatura
da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. Incomum demora faz desconfiarmos
das causas da prefeita ainda não ter assinado e publicizado o documento.
Aguardamos seu pronunciamento público sobre o caso, o que ainda não foi
feito, após um ano de polêmica.
O CPTEP continua suas reuniões, atos e encontros. Aproxima-se o dia da
decisão acerca do destino de nossa querida estação. Independente do poder
público, da sanha modernizadora do Metrofor, do desrespeito à memória da
população e do descaso dos tecnocratas que deveriam prezar pelo nosso
patrimônio, a estação estará sempre preservada através desta luta
empreendida pela comunidade organizada no CPTEP. O imóvel, de significativo
valor histórico, arquitetônico e afetivo para os moradores de Parangaba e
referencial identitário incontestável para a cidade de Fortaleza, continua
de pé. Não sabemos até quando.
COMITÊ PRÓ-TOMBAMENTO DA ESTAÇÃO DA PARANGABA
CONTATOS: estacaoparangaba@yahoo.com.br
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