quinta-feira, maio 03, 2007

1º de maio: “por nenhum direito a menos”



Decididos a impedir a realização das reformas sindical e trabalhistas e em protesto contra a política econômica do governo Lula, representantes de movimentos sociais e partidos de esquerda participaram de uma manifestação do 1º de Maio, na Praça da Sé, em São Paulo (SP). O ato teve um forte caráter crítico ao governo e contrapôs-se aos promovidos pela Força Sindical e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT).

“Aqui não tem show nem sorteio de nada”, disse Paulo Pedrini, da Pastoral Operária, que acredita que as duas principais centrais sindicais do país descaracterizam o 1º de Maio como um dia de luta. “Estamos protestando contra o modelo econômico excludente, pelo direito de greve e contra as reformas que o governo quer implementar. Já os atos da CUT e da Força são patrocinados por empresas como a Ambev”, criticou.

Durante ato, os manifestantes reafirmaram a importância da articulação da frente de luta em defesa dos direitos dos trabalhadores, que irá culminar em manifestações durante o dia 23, quando haverá marchas e paralisações em todo o país. De acordo com a organização do ato, 10 mil pessoas compareceram à Praça da Sé e, segundo a Polícia Militar, 2 mil estiveram presentes.

“Essa praça voltou a ser do povo por duas razões: temos unidade e luta. No próximo dia 23, vamos mostrar que existimos e que queremos direitos a mais”, disse, sob aplausos, o advogado Plínio de Arruda Sampaio, do Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Já para o representante da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), José Maria de Almeida, a reunião que houve no dia 25 de março - e reuniu cerca de 6 mil representantes de organizações sindicais e movimentos populares em São Paulo – foi responsável pela construção da unidade entre as entidades, “mesmo que haja contradições dentro dos setores que ainda apóiam o governo”, disse.

Maturidade política

Nas falas das lideranças dos movimentos, predominou um tom crítico à diretriz neoliberal da política econômica do governo Lula. Os dirigentes deixaram claro a necessidade de construção de uma unidade de forças sociais capaz de intervir na conjuntura. “Essa unidade simboliza a maturidade política da organização e é fruto de um debate conjunto das organizações. Apesar das diferenças existentes entre nós, deixamos as divergências de lado em prol de uma luta maior. Esse é o primeiro passo de uma luta conjunta contra a hegemonia do capital”, assinalou José Batista de Oliveira, da direção nacional do MST.

De acordo com os manifestantes, o ato da Praça da Sé foi mais “legítimo” que os da CUT e Força Sindical. “Eles não representam a classe trabalhadora, deturpam o ato trazendo artistas e manipulando a data, que é um dia histórico de mobilização”, disse Carlos Roberto Coelho, do Núcleo Força Ativa, da cidade Tiradentes. De acordo com ele, as divergências políticas entre os movimentos e partidos de esquerda presentes são “uma perda de tempo. Ainda bem que hoje estamos reunidos para combater o inimigo comum”.

Entre os participantes, estavam dezenas de moradores do Acampamento João Cândido, localizado na divisa de São Paulo com Itapecirica da Serra, mais recente ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que conta com aproximadamente 3 mil famílias. Os acampados marcharam em fila durante passeata que passou pela Rua Boa Vista, e terminou em frente à sede da

Prefeitura, no centro da capital. Entre eles, estava o maranhense Antônio Araújo Brandão, que esteve pela primeira vez na vida em um ato do 1º de Maio. “É bom estarmos todos juntos, porque assim ficamos mais fortes”, disse Brandão, que lamentou a situação em que se encontram as famílias do MTST. “Mas a esperança é a última que morre”.

Durante a passeata, os manifestantes fizeram uma parada em frente à Secretaria Estadual dos Transportes, onde protestaram contra a demissão de cinco metroviários como punição por paralisação promovida no final de abril.

Fonte: Jornal Brasil de Fato
Por: Tatiana Merlino

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