Algumas considerações do professor Aécio Oliveira*. Postado como comentário ao artigo "De navalhas e Saúvas" de autoria do advogado Renato Roseno. (AL)
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A "corrosão do caráter" decorre do poder social e político que o dinheiro adquire historiamente. A sociedade capitalista cria o ambiente social mais propício para que se estabeleça esta "divindade visível". Nela o dinheiro adquire a condição de compêndio celestial das mercadorias; e estas sua existência terrena. Nesta sociedade, o dinheiro é a expressão de comando sobre o mundo das coisas e sobre o mundo da vida. Daí porque, entre o universo e a Terra, tudo terá que ser transformado em mercadoria.
Por isso é que as tranformações advindas do mundo do trabalho e das formas atuais do capitalismo flexível corroboram na direção da corrosão dos caracteres.
Dizer que nossas "corrosões" são históricas e estruturais não significa muito, se não aclararmos a matriz em que se assentam. O modo de acumulação colonial, que antes beneficiava Portugal, agora, sob a denominação de inserção periférica e dependente, reafirma a razão instrumental do modo de expansão do capital no Brasil, desde os 1500.
Sem dúvidas, no conjunto das chamadas "elites" também estão militantes históricos das causas sociais brasileiras. Assemelham-se aos plutocratas históricos, posto que reduzidos a condição de buscadores de poder social particular (dinheiro).
"A lógica da governabilidade, do pragmatismo, da manutenção de pequenos nacos de poder institucional por via de alianças indigestas ou, até mesmo, coisas ridículas como o status do cargo, a marca do carro, um pouco mais no contra-cheque têm valido de substrato para defender o antes indefensável." Esta, uma bela síntese das "corrosões"; de como muitos (que são poucos, diante das classes subalternizadas) foram capturados pela racionalidade econômica do capital que exige e induz a produção e busca rápida e incessante de dinheiro.
A corrosão do caráter, que tem a categoria valor como matriz, também agride o ambiente natural. A natureza do valor redefine o valor da natureza. Nesse sentido, a segunda vitória do capitalismo não será registrada pela mídia burguesa. Sobrarão as catedrais do consumo, sem consumidores, nem mesmo seus apologetas.
* Aécio Oliveira, é professor de Economia Política Marxista II, do curso de Economia da UFC.
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