
Um bom filme sempre quer atingir a vida e de alguma forma fazer parte da realidade à sua volta. Sábado à noite, filme de Ivo Lopes Araújo sobre Fortaleza, consegue isso de forma direta com um olhar aberto e curioso, sem filtros, truques e noções pré-concebidas demagogas que dominam em outros filmes sobre cidade. No filme se percebe uma relação muito íntima com a cidade, mas aliada a um distanciamento e um rigor do olhar que modifica a relação rotineira que nós temos com a cidade normalmente.
O filme se estrutura através de três pessoas: Armando Praça, uma espécie de guia que abre o leque de possibilidades do filme (sendo feito) com a cidade; Danilo Carvalho, o homem do som, que tem a liberdade de se relacionar de várias formas com os sons da cidade; e Ivo, o homem atrás da câmera que também tem a liberdade de enquadrar de inúmeras maneiras a cidade. É através dessa estrutura que o filme ganha a sua força e o seu jeito único de vivenciar a cidade.
O papel do registro observacional se torna complexo à medida que os mediadores que conduzem o filme se abrem para uma indeterminância dos acontecimentos: um amor pela vida e pelas pessoas que habitam a cidade. Eles se deixam levar por pessoas que passam, se encantam e entregam-se às estruturas da cidade; e isso cria um profundo senso de dramaturgia, incomum no documentário. Existe a mise-en-scène e existe o acaso, que convergem pra criar um filme que reverbera a cidade (sua arquitetura e seu espetáculo de luzes urbanas) e seus habitantes. E sempre em prol de um olhar e um tempo generosos e rigorosos.
O filme começa no crepúsculo, na estrada que chega a Fortaleza e termina ao amanhecer na Praça do Ferreira, ao som dos grilos, dos pombos e do relógio central da praça, anunciando a chegada de mais um dia na cidade de Fortaleza. Sábado à noite capta esse momento e através dele mostra de fato uma Fortaleza jamais antes vista, mas que nos é extremamente próxima e que nos revela muito.
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