
joão pedro stedile
Tenho comentado sempre neste espaço que estamos vivendo um período histórico adverso para a classe trabalhadora brasileira. Esse contexto se deve à conjugação. de vários fatores, como: derrota político-eleitoral de 1989; implementação do projeto de dominação neoliberal a partir de 1990 que unificou as classes dominantes, agora subordinadas ao capital internacional e financeiro; derrota do campo socialista; mudanças estruturais no mundo do trabalho industrial que trouxeram desemprego e fragilidade do movimento operário e sindical. Tudo isso permitiu que os setores mais dinâmicos da economia, em especial o setor financeiro e os setores exportadores vinculados às transnacionais, tivessem ganhado muito dinheiro e mantido elevadas taxas de lucro. Se quiserem, aí vai apenas um exemplo do que isso representa de perdas para a classe trabalhadora e o povo em geral. O governo arrecada os impostos e devolve por ano, na forma de serviços públicos destinados a todo o povo: 14 bilhões de Bolsa-Família, mais 18 bilhões no Ministério da Educação e outros 20 bilhões no Ministério da Saúde. Total de 52 bilhões de reais. Isso é tudo o que o povo brasileiro recebe em serviços públicos básicos. Nesses dias, os jornais revelaram que os bancos brasileiros cobram de seus correntistas, somente em taxas de serviços, sem contar juros, nada menos do que 52 bilhões de reais por ano...
Como enfrentar essa hegemonia?
Bem, diante disso é que se colocam os verdadeiros desafios do povo brasileiro: como se organizar e aglutinar forças para enfrentar essa hegemonia do capital, que domina a economia, o governo, os meios de comunicação, e preparar um novo período histórico? Até agora, as forças populares estavam muito dispersas e perdidas politicamente. Parece que há sinais de luz no final do túnel. Está em curso um processo de aglutinação de forças por afinidade ideológica, muito interessante. Temos a Coordenação de Movimentos Sociais (CMS) que articula diversas entidades e movimentos em nível nacional, e sobretudo setores da CUT, a UNE, a Marcha das Mulheres e a Via Campesina. Setores sindicais descontentes com a linha política da CUT tentam se rearticular como sindicalismo combativo formando a Intersindical. Setores políticos mais próximos ao PSTU, PSOL e esquerda independente estão construindo a Conlutas, nos moldes da COB Boliviana, pretendendo articular sindicatos, movimentos populares e estudantis. E finalmente temos a Assembléia Popular, que reúne um amplo leque de forças populares, as pastorais sociais da CNBB, movimentos de mulheres, Via Campesina e sindicatos combativos.
Essas articulações estão convergindo agora para construir uma agenda comum de mobilizações, sem hegemonismo ou sectarismo. Está em curso um processo para realizarem mobilizações conjuntas em defesa dos direitos dos trabalhadores frente às ameaças de reformas que a classe dominante exige (nenhum direito a menos). Por exemplo, um plebiscito popular pela reestatização da Vale do Rio Doce, e a necessidade de um novo projeto de desenvolvimento para o país fundado na distribuição de renda e na solução dos graves problemas do povo, como: emprego, salário, renda, reforma agrária e educação.
Há sinais no final do túnel, quem sabe uma nova geração de lideranças populares vá surgindo... .
João Pedro Stedile é membro da Coordenação Nacional do MST e da Via Campesina.
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