
Novo partido realiza, entre os dias 7 e 10, seu primeiro congresso buscando unidade na estratégia programática
Por: Luís Brasilino do Brsil de Fato - www.brasildefato.org.br
Numa conjuntura marcada pela ofensiva do capital e por uma postura defensiva da esquerda, como construir um instrumento de luta socialista? Para responder a essa pergunta, ainda que não de forma conclusiva, mais de 800 delegados e 600 observadores de todos os Estados do país irão participar do 1º Congresso Nacional do Partido Socialismo e Liberdade (Psol). O evento acontece entre os dias 7 e 10 no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e conta com 16 diferentes teses.
Dentre as lideranças de algumas das principais teses ouvidas pelo Brasil de Fato, paira a certeza de que o encontro servirá mais para reforçar a unidade do novo partido, com três anos completados em janeiro, do que para amplificar as diferenças. Por exemplo, Edmilson Rodrigues – que assina a tese da Ação Popular Socialista (APS) ao lado do senador José Nery (PA) e do deputado federal Ivan Valente (SP) – lembra que, sem perder a pluralidade, o Psol surge de frações mais à esquerda no espectro político: “não temos setores reformistas ou social-democratas”.
O sindicalista gaúcho Roberto Robaina, signatário da tese do Movimento Esquerda Socialista (MES) junto com a deputada federal Luciana Genro (RS), também prevê que o Congresso será de união partidária. “Essa é a nossa perspectiva, afirmar e fortalecer a unidade do Psol”, garante.
Estratégia
Desempenha papel decisivo nessa união as poucas diferenças no horizonte estratégico apresentado pelas tendências, na avaliação do jornalista Milton Temer, da mesma tese dos intelectuais Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder e do deputado federal Chico Alencar (RJ). “Não há ninguém no Psol que conteste a definição clara do objetivo estratégico do qual nenhum movimento tático pode estar desvinculado, o socialismo. [Parte-se] da certeza de que é impossível a sobrevivência do gênero humano se mantida a hegemonia do capital. Assim, marcharíamos inexoravelmente para a barbárie. Esse é um ponto que unifica o Psol”, destaca.
Edmilson Rodrigues, que foi prefeito de Belém (PA) entre 1997 e 2004, acredita que o Psol deve recuperar três pilares que fundaram o PT – antigo partido da esmagadora maioria dos participantes desse Congresso –, mas que foram abandonados pela legenda, “levando ao seu naufrágio”. São eles: o horizonte socialista, a democracia interna e o caráter classista da organização.
Nesse sentido, Silvia Santos, da Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST), a mesma do ex-deputado federal Babá, explica que o processo protagonizado pelo presidente Hugo Chávez, da Venezuela, não deve ser seguido. Mesmo reconhecendo seus méritos ao enfrentar o imperialismo, Silvia acredita que o melhor caminho não deve ser uma política “para punir o capital financeiro e favorecer o industrial e nacional. O desenvolvimentismo não pode resolver os problemas brutais pelos quais passa a maioria do povo”.
Desafios
O Psol chega ao 1º Congresso comemorando conquistas de seus três primeiros anos de existência. Roberto Robaina destaca o processo de legalização do partido – “não foi fácil recolher 500 mil assinaturas” – e a campanha eleitoral de 2006, na qual a ex-senadora Heloísa Helena, candidata do partido à Presidência, obteve cerca de 6,6 milhões de votos. “Uma campanha sem dinheiro, sem infra-estrutura e com pouquíssimo tempo de televisão que contrariou a maioria dos analistas políticos”, recorda.
No entanto, com um objetivo estratégico considerado por muitos – até como forma de defendê-lo – uma utopia, os desafios do Psol daqui para a frente são muito maiores. Edmilson Rodrigues aponta que, ao partido, cabe agora constituir-se como uma alternativa socialista para a sociedade brasileira. Só que, a conjuntura já não é tão favorável quanto àquela dos anos 1980, época do surgimento do PT. “A classe dominante detém sofisticados aparatos ideológicos e de propaganda e combate ferozmente o socialismo. É só ver a cobertura que faz sobre o presidente Hugo Chávez”, analisa. Para ele, a mídia corporativa e a democracia burguesa estão caindo em descrédito, mas “caem como uma fera sendo morta, lançando um forte ataque em quem está por perto”, afirma sobre o momento de defensiva do movimento socialista.
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